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Assim como os discípulos de Emaús pediram ao Senhor “para ficar com eles”, Jesus quer dar-nos o seu Espírito vivificante... Tempo. História. Sinal. Discernimento... Eis a encruzilhada de palavras que abrangem o sentido, a vocação e o destino de todos e cada um de nós. Hoje só ouvimos falar e vemos notícias que deprimem a qualquer feliz-da-vida: crise econômica, corrupção política, expansão da Aids ou da gripe A, casos de pedofilia, luta de interesses na ONU, aquecimento global, planificação familiar, reajustes laborais, controle da natalidade, crescimento da fome nos países mais pobres e aumento da obesidade nos países mais ricos, tragédias naturais... Através dos jornais, da televisão e do rádio, o mal é amplificado até o ponto de acostumar-nos às coisas mais horríveis. O nosso coração vai-se endurecendo até dar-se em nós a insensibilidade. Desse modo e aos poucos os nossos pensamentos tornam-se sombrios e pesados, próprios do “entardecer” da vida. A tristeza no olhar das pessoas mostra as sequelas de uma história vivida como se Deus não existira. O mundo não tem hoje discernimento para perscrutar os sinais dos tempos e daí que os homens não saibam para que vivem nem para que morrem. Todo tipo de sofrimento psíquico, físico ou espiritual direciona o homem ao profundo mistério do Amor. Mas para vivenciar o mistério se precisa do discernimento, isto é, dos olhos da fé. Um dom como esse só pode ser recebido como um presente e não como algo merecido ou exigido. Abre-se um abismo no interior do homem entre aquilo que é o desejo de não perder para sempre um momento feliz vivido e aquilo que é o cúmulo da felicidade plena que ele deseja no fundo do seu coração. Essa divisão de ter nas nossas mãos a possibilidade de sermos felizes e, de repente, ver truncadas as nossas perspectivas. É aquilo que pode acontecer com um pai em relação com o seu filho adolescente: ele o ama e cuida, aproxima-se dele para mostrar-lhe quanto o ama, mas um dia seu filho morre atropelado por um carro ou morre de câncer. Todos sentimos e temos dentro de nós uma força que nos impele a “imortalizar-nos” e “eternizar-nos”, mas a realidade de que o meu filho morreu, ou a dificuldade de chegar ao final de mês, ou o medo de ter outro filho, ou a doença da minha mãe, aborta qualquer sinal incipiente de esperança em uma felicidade para sempre. E assim vivem as pessoas que nos rodeiam, tristes, preocupadas, angustiadas, sérias, sem levantar o olhar do chão, tentando disfarçar com lábios sorridentes aquilo que os olhos – como espelhos da alma – não podem esconder. Por isso mesmo, Jesus Cristo nos convida, neste tempo preparatório para o XVI Congresso Eucarístico Nacional, a fitar os nossos olhos no Mistério Pascal que celebraremos em breve. Assim como os discípulos de Emaús pediram ao Senhor “para ficar com eles” (Lc 24,29), Jesus quer fazer morada em nós, dar-nos o seu Espírito vivificante, o Espírito que faz todas as coisas novas, o Espírito que passa pelos acontecimentos da nossa vida transformando-os em motivo de alegria: a reconstrução do teu matrimônio, a reconciliação com o teu pai e teus irmãos, o amor a tua esposa e teus filhos, o perdão pelo aborto que realizaste, a tua libertação das drogas e da bebida... Oh, sim, essa é a Vida Eterna que o homem anseia, isto é, reconhecer na fração do pão ao Cristo ressuscitado e “passar” (Páscoa) a viver aqui – neste mundo passageiro – a vitória da vida sobre a morte. Já não temos mais medo do que acontece no mundo, porque sabemos que Jesus Cristo retornará para ficar sempre conosco. Podemos, sim, assumir ‘o entardecer’ desta vida, porque recebemos a esperança do triunfo de Deus sobre o mal, o pecado e a morte. Por isso, a presença de Jesus eucarístico nos convoca à missão pascal, isto é, a anunciar a boa notícia da sua ressurreição com as obras por ele realizadas nas nossas vidas. Desse modo não haverá nenhuma situação obscura que não seja iluminada pelo testemunho de vida e pelo anúncio convicto de que Jesus está vivo e ressuscitado em nós, a sua Igreja. As divisões entre nós cairão antes ou depois como fruto da conversão e da santidade na medida em que a nossa comunhão com o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo seja veraz, autêntica e sincera. Marcos Sabater Muñoz Seminarista do Seminário Redemptoris Mater |
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